Friday, June 05, 2009

A propaganda sionista

4 DE JUNHO DE 2009 - 20h53

A propaganda sionista


por Lejeune Mirhan*

Não é de hoje que a mídia trabalha a favor dos sionistas, seja na grande imprensa, seja nas academias. Esta semana, numa das listas da internet que participo, recebi uma firme defesa de Israel que publico abaixo. Claro, pretendo comentar, na maioria dos seus tópicos, os meus pontos de vista, refutando os argumentos apresentados. De meu ponto de vista, uma propaganda feita por sionistas que não se intitulam dessa forma.


Theodor Herzl o fundador do Sionismo

Argumentos em Defesa de Israel

São 30 afirmações em defesa e comento em seguida procurando refutá-las. Vamos á elas:

1. Os judeus podem viver na Cidade do México, em Bangcoc, em Saint Louis, ou em qualquer outra cidade do mundo (exceto nas da Arábia Saudita), mas a Autoridade Palestina quer proibi-los de viverem justamente no berço do judaísmo.

O berço do judaísmo não é a palestina. Os judeus saíram de Ur, na Caldeia, antiga Babilônia e passaram parte de suas vidas em parte da palestina. Ainda que seja contestada a partilha da palestina, a região da Cisjordânia é assegurada exclusivamente para os palestinos. Seguir construindo colônias nesse território como Israel faz hoje é negar a paz na região.

2. Nos últimos 3.000 anos, o único período em que não houve uma presença judaica contínua na Margem Ocidental foram os dezenove anos entre 1948 e 1967, quando o governo da Jordânia proibiu os judeus de habitarem na região.

Também não é verdade. A presença de judeus na Palestina, após a diáspora causada pela sua expulsão pelos romanos no ano 70 da era cristã, foi sempre residual. No entanto, a convivência com os palestinos, que foram islamizados no século VII e com os cristãos, sempre foi pacífica, nunca havendo problema. O sionismo é que cria um grande problema para a região com a imigração forçada e artificial.

3. Em 1979, Ariel Sharon desmantelou Yamit e outros assentamentos judaicos no Sinai porque estava absolutamente claro que essas concessões trariam a paz verdadeira.

É preciso dizer que a região do Sinai foi tomada pela invasão do exército israelense e essa colônia judaica foi construída ilegalmente á revelia do direito internacional, em terras egípcias. Tais terras ficaram em poder os israelenses sionistas entre a Guerra dos Seis Dias de 1967 e 1979, portanto por 13 anos seguidos Israel violou todas as resoluções da ONU que determinavam a desocupação dessa região do Egito.

4. Como os territórios disputados nunca fizeram parte de uma nação soberana e foram conquistadas durante uma guerra defensiva, as leis internacionais permitem o assentamento voluntário de colonos naquela região. Reconhecendo esse fato, os acordos de Oslo jamais abordaram a questão das colônias judaicas ou árabes.

Não foi só a Palestina que teve dificuldade de ter um governo soberano em seu território. Vários países da região, que sempre viveu, desde antes de Cristo, vários impérios e sob domínio de várias potências, sejam elas os babilônios, persas, romanos, turco, inglês entre outros. Os palestinos nunca tiveram o direito de constituir o seu estado, pelo menos na forma como conhecemos, moderno, do tipo pós-Westphalia. O Plano de Partilha da ONU assegurou toda a Cisjordânia aos palestinos e assentar judeus nessa região é violar ainda mais o já frágil processo de paz iniciado em Oslo.

5. O problema dos refugiados não existiria se sete nações árabes não tivessem atacado Israel imediatamente após sua fundação, em 1948.

Por essa concepção, os palestinos refugiados deveriam mesmo se contentar em serem cidadãos dos países árabes vizinhos de Israel, que acabaram abrigando tais refugiados expulsos de suas terras pelo exército de Israel desde 1948. Não foram as nações árabes que “atacaram Israel”, mas sim o contrário. O expansionismo judaico que tomou todas as terras dos palestinos e pretendia ocupar os países árabes vizinhos. É o chamado Eretz Israel ou grande Israel em hebraico, que vai do Eufrates, no atual Iraque ao Nilo, no Egito. Esse sempre foi o plano original dos sionistas.

6. Síria, Líbano, Arábia Saudita e outros países árabes decidiram, conscientemente, isolar os refugiados políticos para usá-los como massa de manobra política, em vez de assimilá-los como cidadãos normais. A Resolução 194 da Assembléia Geral da ONU estabelece que todos os governos envolvidos são solidariamente responsáveis em relação à questão dos refugiados.

Esses países árabes e outros mais não “isolam”, nem confinam os palestinos. Apenas não lhes dão cidadania até porque os palestinos não querem ser “sírios”, nem “jordanianos”, nem “sauditas” e outras nacionalidades mais. Querem ser o que são: palestinos. Esse direito eles não podem ter porque seu estado nacional e soberano, a Palestina, não existe no mapa mundial por que Israel sistematicamente nega esse direito.

7. Em 1948, oitocentos mil refugiados judeus foram expulsos de países árabes, mas seus descendentes são hoje cidadãos plenos porque foram absorvidos por Israel e outros países.

Desconhecemos esse número. Judeus vivem em paz em todos os países árabes e islâmicos. Aliás, esta no Alcorão a proteção de todos os judeus e cristãos, que seguem o livro sagrado que os muçulmanos reconhecem. Todos os judeus do mundo que chegam à Israel viram cidadãos israelenses pela chamada Lei do Retorno, direito esse negado aos palestinos que não podem voltar e são quatro milhões que vivem precariamente espalhados pelo mundo.

8. Ao contrário dos países árabes, Israel concedeu cidadania israelense aos árabes que ficaram dentro de suas fronteiras. Hoje em dia, 1 milhão e 200 mil israelenses de origem árabe desfrutam de cidadania, benefícios e representatividade em Israel.

Os israelenses expulsaram das terras que a ONU destinou aos judeus no plano de partilha mais de um milhão de palestinos. Mais de 500 aldeias palestinas foram destruídas e milhares foram brutalmente assassinados pelos terroristas do Irgun, da Haganah e outros grupos judaicos que se proclamam “libertadores”. Esses palestinos que resistiram acabaram virando “cidadãos” israelenses, mas cidadãos de segunda categoria. A OIT comprova que ganham 50% menos que um judeu para fazer as mesmas funções e praticamente só consegue empregos precários e subalternos. Gastam quase seis horas para ir e vir ao trabalho, pelas humilhações que tem que passar nos checkpoints e são discriminados pois nas suas carteiras de identidades consta que são muçulmanos (aliás, Israel é dos poucos países do mundo que emitem carteiras de identidade onde se menciona a religião das pessoas).

9. Israel assinou tratados de paz independentes com o Egito (1979) e a Jordânia (1994) e, nas duas ocasiões, abriu mão de terras, petróleo, colônias ou vantagens estratégicas em prol de um acordo pacífico.

Mentira descarada. As terras “devolvidas” ao Egito nunca pertenceram à Israel, mas foram tomadas na Guerra de expansão e conquista dos Seis Dias em junho de 1967. Para a Jordânia, nenhuma terra foi devolvida.

10. Israel forneceu terras, dinheiro, armas, treinamento e serviços de inteligência à Autoridade Palestina, na esperança de que aquela organização demonstrasse reciprocidade e acabasse com os atos terroristas e o incentivo à violência.

Mentira. A ANP recebeu ajuda de países do mundo inteiro, da União Europeia e mesmo dos EUA. Mas não de Israel. O que se chama de “terrorismo” é o direito inalienável, reconhecido pela Carta das Nações Unidas, de um povo resistir de armas nas mãos à colonização e a tomada de suas terras.

11. A própria fórmula "Terra em Troca de Paz" indica que cada um dos lados entra em acordo com o outro em troca daquilo que mais deseja: no caso dos árabes, terras; no caso de Israel, paz.

Essa bandeira nunca foi de Israel mas sim dos palestinos e apoiada por todos os países árabes. Enquanto Israel não se convencer que se não devolver as terras que tomou dos palestinos, a paz nunca será possível na região. É preciso devolver a Cisjordânia inteirinha aos palestinos e a Faixa de Gaza deve ter suas fronteiras libertadas. Devem ser devolvidas as colinas de Golã par a Síria e extensa faixa de terras no Sul do Líbano (fazendas de Shebaa), ao Líbano. Sem isso, Israel nunca terá a paz.

12. Em 1917, 1937, 1947, 1956, 1979 e 1993, os líderes israelenses seguiram o mesmo padrão de ceder terras em troca da paz com seus vizinhos árabes.

As datas não estão corretas e nunca Israel cedeu terra alguma. Até porque nunca as teve na região, salvo as que tomou de um povo milenar que morava na Palestina, que são os palestinos. Em 1917, na Palestina existiam apenas 8% de judeus e 92% de árabe-palestinos. E mesmo os 8% de judeus são fruto de um incentivo à imigração feito pelos sionistas desde o congresso sionista da Basileia em 1897. Financiados pela Agência Judaica com dinheiro de banqueiros judeus em várias partes do mundo.

13. A verdadeira OLP manteve refém a delegação israelense nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, tentando forçar a libertação de prisioneiros palestinos. Como suas reivindicações não foram atendidas, onze atletas israelenses foram assassinados.

Mentira. O sequestro mencionado de atletas israelenses foi feito por um dos grupos palestinos que atuavam na luta de libertação desse povo e não contou com o apoio da OLP.

14. A verdadeira OLP inventou os seqüestros de aviões em 1970 e disseminou o medo entre os viajantes do mundo inteiro.

Também não é verdade. Essa tática foi adotada por uma das organizações que atuam na OLP, que é uma frente política ampla. E mesmo o agrupamento que seqüestrava aviões, o objetivo não era ferir pessoas, mas chamar atenção ao mundo para a causa palestina. Hoje a maioria dos grupos que lutam pela libertação da Palestina, agem apenas e tão somente nos territórios ocupados e não fora deles.

15. A verdadeira OLP matou a tiros o cidadão americano Leon Klinghoffer um homem idoso, desarmado e preso a uma cadeira de rodas a bordo do transatlântico Achille Lauro, em 1985.

Também não é verdade. Esse evento foi feito por um grupo dissidente de uma das organizações internas da OLP. A direção central da Organização nunca apoiou essa atitude e atividades de seqüestros fora dos territórios ocupados por Israel.

16. A verdadeira OLP continua a incitar a violência contra os judeus, a promover a luta armada para "libertar toda a Palestina" e a plantar o ódio no coração das crianças palestinas, ensinando-lhes que a morte é o prêmio máximo.

Os diversos grupos que atuam nos territórios ocupados defendem sim a libertação de suas terras e enfrentam o quarto maior exército do mundo que é o de Israel. Muitas vezes com pedras e paus. É uma luta desigual e a mídia que apoia e/ou é controlada por Israel coloca os israelenses como vítimas, mas estes são os algozes do povo palestino.

17. As duas únicas nações soberanas que já existiram na terra de Israel foram os dois reinos do antigo Israel, o reino do Norte e o reino do Sul, sendo que o segundo foi destruído no ano 70 da era cristã.

Isso é parte da lenda bíblica e acredita nisso quem tem fé. Não há documento algum sobre isso. Mas, ainda que isso fosse verdadeiro, os chamados reinos de Israel, existiram apenas em parte de toda a palestina. Os judeus, os antigos hebreus nunca ocuparam toda a Palestina, mas parte dela, uma minoria e mesmo assim, por um determinado período, nunca de forma continuada. Ainda assim, não poderiam reivindicar essas terras, com base na religião, pois é dono das terras quem fica nelas e cuida delas, como os palestinos fizeram ao longo de milhares de anos. A cidade mais antiga existente na terra de forma continuada, chama-se Jericó e é palestina e tem mais de cinco mil anos. Se essa moda pega e tivermos que devolver terras para os ancestrais que as ocuparam, os EUA deveriam devolver todo o seu território imediatamente aos comanches, apaches, sioux, sherokees entre outros povos indígenas, como os latino-americanos deveriam devolver todo o subcontinente aos Incas, Mais e Astecas.

18. Por 3.000 anos, os judeus expressaram o desejo de voltar à sua terra ancestral: no Seder da Páscoa, na cerimônia do Yom Kippur, nas orações diárias, na bênção após as refeições, nas palavras ditas sob o dossel durante a celebração nupcial, no Tisha B’Av (o dia do luto nacional), e através do ato de colocar um pouco da terra de Israel no túmulo de seus mortos.

Todos os povos e todas as religiões podem expressar em seus rituais seus desejos mais recônditos, mas desde que uma eventual volta não signifique desalojar um povo que milenarmente ocupa tais terras objeto de desejo de um povo. A chegada dos hebreus na Palestina, expressa no capítulo Josué do Velho testamento é sangrenta. A conquista foi feito a ferro e fogo, tudo foi abatido a fio de lâmina da espada. Mulheres, crianças e idosos foram brutalmente mortos. É a lenda bíblica, mas esta lá narrado como foi. E a própria “volta” à uma terra ancestral nunca foi unanimidade na interpretação bíblica. Diversos grupos judaicos, que são contra o sionismo discordam da criação do Estado de Israel.

19. Apesar da Diáspora (Dispersão), algumas comunidades judaicas conseguiram permanecer residindo continuamente em cidades como Jerusalém, Safed, Tiberíades, Siquém e Hebron.

É verdade. Os judeus que ficaram na Palestina sempre viveram em paz com árabes muçulmanos ou cristãos e foram sempre respeitados. A discordância está na imigração, muitas vezes estimulada e forçada, para criar uma situação de fato para forçar a criação de um estado artificial completamente, que é Israel onde se falam pelo menos 70 línguas diferentes, ainda que o hebraico seja a língua oficial.

20. Quando Israel assumiu o controle de Jerusalém e a reunificou, em 1967, em vez de proibir a religião muçulmana ou fechar as mesquitas, permitiu que o Waqf muçulmano (autoridade religiosa) administrasse e controlasse o Monte do Templo e mantivesse a mesquita de Al-Aqsa.

A liberdade religiosa é restrita em Jerusalém. Os palestinos não têm direito de ir e vir livremente e de cuidar do lado árabe dessa cidade completamente ocupada pelo exército de Israel. Os judeus consideram Jerusalém como sua eterna e indivisível capital e esta cidade é tão sagrada para os cristão como para os muçulmanos. Ter um prefeito judeu de Jerusalém e essa cidade estar militarmente ocupada é uma ofensa das maiores que se poderia praticar contra cristãos (de todas as confissões no mundo) e contra muçulmanos. Tais atitudes nunca levarão à paz.

21. Quando a Jordânia detinha o controle da região, os judeus foram proibidos de orar no Muro Ocidental. Além disso, o cemitério do Monte das Oliveiras e 58 sinagogas foram destruídos. Já com o governo de Israel, os lugares sagrados dos cristãos, judeus e muçulmanos estão abertos a todos os fieis com exceção do local onde se erguia o antigo Templo judaico, o Monte do Templo, onde os judeus, normalmente, são impedidos de orar.

Não é verdade isso. O Corão proíbe textualmente que se toque em qualquer templo sagrado de judeus e cristãos. Isso é vedado textualmente. Os judeus e cristãos são considerados os “povos do livro”, em uma alusão ao Velho Testamento. Há uma célebre passagem da chegada do califa Omar Al Khatab em Jerusalém em 638. O patriarca cristão da cidade, chamado Sofrônius, o convidou para orar junto na Igreja do Santo Sepulcro. Omar agradeceu, mas preferiu orar na porta dessa Igreja, pois disse a Sofrônius que sabia da sua importância no Império Árabe-Muçulmano e com isso temia que naquele local seus seguidores construíssem uma Mesquita e isso nunca seria permitido. Foi o período da maior liberdade religiosa vivido por Jerusalém.

22. Quando Israel transferiu o controle militar para a Autoridade Palestina, multidões enfurecidas queimaram e destruíram lugares sagrados e artefatos religiosos dos judeus em Jericó, Hebron e no túmulo de José, em Nablus.

Isso, se ocorreu, não foi e nunca será uma orientação das autoridades palestinas, pois José é um dos 25 profetas considerados sagrados no Islã e seu tumulo nunca poderia ser violado. Essa não é e nunca será uma orientação da liderança palestina, pois são defensores dos valores sagrados de todas as religiões. A direção da OLP, apesar de laica, não religiosa, não adota essa postura de provocação.

23. Em 2002, trinta monges da Igreja da Natividade, em Belém, ficaram reféns de terroristas palestinos, porque estes sabiam que os soldados israelenses não atirariam para dentro da igreja. Depois que os reféns foram libertos, os investigadores encontraram a igreja profanada e aviltada.

Atitudes de agressão a símbolos judaicos e cristãos não é uma orientação e nunca será da liderança palestina que encabeça a luta de libertação do povo palestino da ocupação israelense. Até porque entre palestinos existem muitos que são cristãos. Episódios como esse são rechaçados pela liderança palestina. Não se pode generalizar atitudes equivocadas de minorias como sendo a opinião de um povo como um todo.

24. Meca e Medina são as cidades mais sagradas para os muçulmanos. A cidade do Vaticano é a sede do catolicismo. Embora Jerusalém tenha importância para muitas religiões, apenas os judeus a consideram como sua capital e cidade mais sagrada. Quando Jerusalém foi conquistada pela Jordânia, em 1949, nenhuma autoridade ou líder muçulmano visitou a cidade em caráter oficial, público ou religioso.

A cidade de Jerusalém é tão sagrada para judeus como é para cristão e muçulmanos. Por isso a sua administração nunca poderia ser única, só judaica. O plano de partilha da Palestina aprovado pela ONU em 29 de novembro de 1947, previa que essa cidade tivesse um status internacional.

25. Os judeus são maioria em Jerusalém desde 1840, e grupos de judeus sempre habitaram a cidade, ininterruptamente, desde a destruição do Templo, no ano 70 de nossa era (Paul Johnson, A História dos Judeus).

Não é verdade. Depois da saída dos cristãos de Jerusalém, derrotados que foram por Saladino (Saláh El Din, grande general muçulmano, de origem curda), os muçulmanos sempre tiveram imensa presença nessa cidade. Na verdade, desde 638 até 1099, quando chegaram os primeiros cruzados e lá estabeleceram o Reino Cristão (um verdadeiro massacre de muçulmanos e judeus). Mas isso durou apenas 88 anos, quando em 1187 Saladino liberta Jerusalém e os cristãos voltam à Europa. Desta época em diante nem judeus nem cristãos nunca tiveram nem o controle nem a maioria da cidade.

26. A Declaração Balfour de 1917, o Mandato da Liga das Nações, o Plano de Partilha da ONU de 1947 e a admissão de Israel na ONU, em 1949, representaram o reconhecimento internacional do direito de Israel existir como pátria dos judeus.

Nada disso é verdadeiro, sob a luz do direito internacional. A declaração Balfour, de 1917, é rechaçada por todos os juristas mais respeitados do mundo. A Inglaterra nunca poderia prometer um “lar nacional judaico” em terras que nunca lhes pertenceram. Esse é um dos mitos na qual o sionismo se baseia. A de que seria preciso dar “terras sem povo a um povo sem terra”. A Palestina sempre foi habitada milenarmente pelos palestinos e os judeus, como se viu, passaram por lá pouco tempo e nunca a conquistaram integralmente. Mesmo a famigerada declaração Balfour foi feita com a ressalva de que o “povo palestino nunca seria prejudicado” com isso. O mandato que se menciona é da Liga das Nações e é de 1920 e ocorreu na cidade que leva o seu nome, San Remo, na Itália e foi organizado pelas potências vitoriosas da I Guerra e outorgaram um mandato para as potências vencedoras dessa guerra para administrar os territórios do antigo Império Otomano. Tais potências eram basicamente a França e a Inglaterra. Esse país, domina a Palestina até a proclamação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948. O plano de partilha da ONU é fruto de um período muito especial e particular da história. A Europa, cuja consciência estava manchada pela morte de milhões de judeus na Alemanha, não sabia mais o que fazer e a migração forçada de judeus, incentivada por Hitler e suas barbaridades, fez com que a população judaica na Palestina ultrapassasse a casa dos 40%. Assim seria preciso uma solução para esse povo que para lá imigrou com apoio da Inglaterra em detrimento do povo palestino. Assim, a votação, por um voto de diferença para que o quórum mínimo fosse atingido, venceu pela criação de Israel e a aprovação do plano de Partilha, onde os judeus ficariam com 53% da Palestina pela Resolução 181 da ONU e os palestinos com 45% e 2% ficariam sob gestão internacional (que seria Jerusalém). A votação ocorreu quando a ONU tinha apenas 57 países membros (hoje tem 192). Somente a Tailândia faltou à sessão. A votação foi de 33 a favor, 13 contrários e 10 abstenções, inclusive dos EUA. A URSS votou a favor, comovida que estava com a opinião pública sobre os massacres de judeus. Mas mais do que isso. Stálin acreditava – erro de avaliação política – que Israel pudesse vir a ser um “país socialista”. Erro crasso cometido pelo camarada.

27. A Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU declara que Israel só deve ceder terras se isso fizer parte de um "acordo pacífico e aceitável".

Isso é falso. A essência da Resolução exige que Israel devolva todos os territórios palestinos ocupados com a guerra dos Seis Dias de junho de 1967. Essa é uma das poucas resoluções do Conselho de Segurança da ONU que contou com o voto inclusive dos Estados Unidos. Israel havia se exacerbado na ocupação e expansão de terras com relação aos seus vizinhos árabes. Tomou toda a península do Sinai, do Egito, ocupou a Palestina inteira, parte da Síria e do Líbano. Isso irritou toda a comunidade internacional. Essa Resolução, portanto, é pela imediata retiradas dos territórios palestinos, coisa que Israel não aceita cumprir, até os dias atuais inclusive, quando continua ocupando parte da Cisjordânia e construindo colônias judaicas ilegais nessas terras palestinas.

28. A Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU também estabelece que todas as nações vizinhas devem reconhecer o direito de Israel "viver em paz, com fronteiras seguras e reconhecidas, livre de ameaças e atos de força".

Como os países árabes podem viver em paz com um Estado como Israel? Possui pelo menos 40 bombas atômicas, ainda que isso não seja dito oficialmente. Tem o quarto maior exército do mundo e mais poderoso. Ocupa terras dos palestinos e os expulsa. Destroi suas casas, prende mais de 15 mil palestinos, boa parte sem direito a advogado de defesa. É contra a solução de “dois estados convivendo lado a lado em paz e segurança”. Como Israel pode exigir fronteiras “seguras” se naco oferece fronteiras seguras a seus vizinhos? Como pode querer um Estado com essa natureza viver em paz?

29. Até 2002, Israel era o único Estado-Membro das Nações Unidas considerado inelegível para o Conselho de Segurança. Mesmo hoje em dia, esse direito é apenas restrito e temporário. Desde a década de 70, um bloco formado por árabes, soviéticos e nações do Terceiro Mundo tem reforçado a marginalização de Israel, bloqueando sua participação em outros organismos-chave da ONU e submetendo a nação a mais comitês de investigação e representantes especiais do que qualquer outro Estado-Membro das Nações Unidas.

Israel colhe – e não é de hoje – aquilo que plantou durante anos. Seu absoluto apoiador são os Estados Unidos. E isso não é qualquer coisa. Por isso Israel se arvora no direito de descumprir todas as resoluções que lhes são contrárias. E são centenas dessas. Os Estados Unidos cunharam um termo para definir certos estados que eles consideram como “apoiadores do terrorismo”, que são os chamados “estados bandidos”. Como definir Israel hoje, que massacra palestinos, que viola convenções de Genebra sobre acordos de genocídio? Assim, Israel vai ficando completamente à Marge da comunidade internacional, perdendo a cada dia mais apoios. Hoje com a administração de Obama, a tendência é Israel ficar cada dia mais isolado. A diplomacia estadunidense vem enviando sinais de que vai deixar de apoiar Israel nos fóruns das Nações Unidas.

30. Israel está enfrentando uma grave ameaça: palestinos armados, escondidos em hospitais, escolas e mesquitas, têm atirado em civis e soldados israelenses, protegendo-se atrás de escudos humanos e usando ambulâncias para transportar armas e munições.

Ninguém compra essa versão fantasiosa, divulgada pelo exército de Israel. Isso ocorre exatamente ao contrário. Israel bombardeia sem dó nem piedade, escolas, hospitais e templos religiosos, nunca poupando a população civil. O maior exemplo disso foram oi quase 1,5 mil mortos palestinos, dos quais um terço de crianças nos 22 dias que Israel bombardeou a Faixa de Gaza entre os dias 27 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009. Tais atitudes foram condenadas pelo mundo todo, sob o silêncio do governo do então presidente Bush, que, claro, apoiava tais atitudes.

Considerações finais

Haviam mais afirmações falsas ou distorcidas. Mas, algumas estavam incompletas, repetitivas ou incompreensíveis. Mas, eu mesmo poderia acrescentar dezenas de outras afirmações – estas verdadeiras – sob a visão dos palestinos. Não tenho dúvidas de que a verdade histórico esta com os palestinos e esse povo vencerá a guerra, seja ela com a resistência armada, seja a guerra da propaganda como é travada dia-a-dia na Internet e pela imprensa, quase toda ela pró-Israel.

A simpatia dos palestinos é total não só entre os grupos e partidos de esquerda no mundo inteiro, mas mesmo em países que não seguem essa orientação política mais progressista. O que se quer hoje é a paz e esse novo governo de Israel, nunca foi tão avesso à paz como todos os outros que o antecederam. E isso dito por intelectuais respeitados do judaísmo.

Benjamin Netanyahu, conhecido como Bibi não quer a paz e foi eleito fazendo campanha contra a paz e contra o Estado palestino. Mas, vai pagar um elevado preço por isso. Vai ficar cada dia mais isolado. E os palestinos acabarão por vencer na sua batalha histórica.




*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological



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