Eleições e atentados no Iraque
Lejeune Mirhan *Já fazia certo tempo queria retornar a esse país árabe ocupado em minhas colunas semanais. Precisava comentar sobre as “eleições” marcada para janeiro de 2010. Mas, agora, uma nova onda de atentado sacode o país, mostrando a completa fragilidade da segurança e o impasse sobre a saída dos soldados estadunidenses que ocupam a Nação árabe.
Iraquianos não votam lei eleitoral para 2010“Eleições” de 2010
Em 31 de janeiro de 2005, eu estava no último Fórum Social Mundial ocorrido no Brasil, na cidade de Porto Alegre. Acompanhei de longe as primeiras “eleições livres” ocorridas no Iraque, sob ocupação militar desde 19 de março de 2003 e quando os Estados Unidos viviam a chamada era Bush. Uma verdadeira farsa eleitoral e tratei disso em diversas colunas deste portal Vermelho.
Não custa relembrar esse episódio. As rádios e TVs iraquianas, todas sob censura e ocupadas por militares americanos, registrar “elevada” presença de eleitores e uma espantosa “calma”. Pura mentira e invenções dos meios de comunicação de massa para enganar o ocidente. Para nos fazer crer que George W. Bush estava “levando a democracia ao Iraque”. Cenários encenados, filas de “eleitores” montadas pelos próprios cinegrafistas e agentes americanos. A verdade é que a abstenção foi elevadíssima, a fraude comeu solto na maioria das sessões “eleitorais” e o grupo sunita, boicotou as eleições.
Os resultados não poderiam ser diferentes. “Vitória” da coalizão xiita em aliança com os curdos, grupos étnico-religioso que se diziam mais perseguidos pelos sunitas que governaram o país desde 1979 até 2003, com Saddam Hussein à frente. Das 275 cadeiras em disputa no parlamento, a Aliança Unida Iraquiana uma coalizão de partidos xiitas apoiadas pelo líder religioso máximo do país, Aiatolá Ali El Sistani, venceu e elegeu 146 cadeiras, ou 53% do total. Os curdos, da União Patriótica do Curdistão, que formavam a Aliança Lista do Curdistão obteve outras 77 cadeiras, ou 28%, totalizando 81% de todo o novo parlamento.
Essa coligação permitiu a indicação (indireta) do curdo Jalal Talabani para presidente do país e os xiitas de lá para cá dominam a política, o governo e o parlamento, sendo o atual primeiro Ministro, Nuri El-Maliki, um xiita. Ele vai disputar a liderança do país e do governo, mais uma vez nas próximas “eleições”.
Insisto em colocar entre aspas essas pretensas eleições por dois motivos básicos. Um é que o país encontra-se sob completa ocupação militar e mais de 160 mil soldados estadunidenses (em sua maioria), encontram-se estacionados em todas as localidades. O segundo aspecto, é que o país vive uma espécie de ditadura sob governo civil, ou seja, não há liberdade quase alguma, sejam em rádio, jornal ou rede de TV, controlados ou pelo governo fantoche dos Estados Unidos ou por partidários e apoiadores desse mesmo governo, que comungam com a linha de aceitação da ocupação militar do país.
O parlamento do Iraque vem discutindo duas coisas básicas para as próximas eleições. Uma delas é o aumento das cadeiras das atuais 275 vagas para 311 (um aumento de 13%). No Iraque temos um deputado, em média para cada 95 mil habitantes (no Brasil, essa proporção é de 350 mil habitantes; e dizem que temos muitos deputados...). O segundo aspecto são as regras dessas eleições, que estão marcadas para ocorrer em 16 de janeiro.
A esta altura do campeonato, diz a comissão eleitoral central que será quase impossível manter a data inicial. Isso porque as novas regras eleitorais deveriam estar aprovadas pelo parlamento até o dia 16 de outubro e até semana passada, dia 21, quarta-feira, as notícias que nos chegavam ao Ocidente eram de que não havia acordo e a lei não fora votada ainda.
A polêmica central esta relacionado com a autonomia de certas regiões do Iraque, em especial o Curdistão, que reivindica total controle do petróleo da região mais rica do país nesse bem que deveria ser de toda a não como era à época do governo de Saddam. Nessa região vivem 900 mil curdos, que, na prática, defendem mesmo é a completa separação do país.
Atentados no Iraque
Após alguns meses de certa “clamaria”, o Iraque foi sacudido, neste final de semana, por dois grandes atentados. Números parciais até o momento dão conta de mais de 200 mortos e centenas de feridos. A grande imprensa à serviço dos Estados Unidos e dos sionistas, já, imediatamente, divulgam notas e comunicados de que a rede “terrorista” Al Qaeda esta por trás das operações.
Um comunicado foi divulgado por um agrupamento que se proclama de “libertação nacional”. Não quero entrar no mérito dessas ações, mas realizar atentados, usar de terrorismo nunca foi e nem será uma novidade em guerras de guerrilha e de resistência à ocupação e em lutas de libertação nacional. Mesmo nos Estados Unidos, antes de sua independência isso foi fartamente utilizado pelo lutadores na tentativa de expulsar os ingleses. O mesmo na II Guerra Mundial, pela resistência antifascista e contra o nazismo de Hitler. Este mesmo sofreu 15 atentados documentados e o mais expressivo, que acaba de virar filme, foi o da Operação Valquíria. Os terroristas dos grupos que se proclamavam “libertadores” dos judeus sionistas massacraram centenas de aldeias palestinas para implantar um clima de terror, para, depois, dizerem que “os palestinos fugiram” (sic). Quem não se lembra da explosão do Hotel King David em Jerusalém em 22 de julho de 1946, organizado por Menachem Béguin, matando 91 pessoas, na sua maioria britânicos que lá se hospedavam e jornalistas? E ainda por cima, anos depois essa asquerosa pessoa recebeu o prêmio Nobel da “Paz”!
O comunicado recente cuja autenticidade nunca pode ser comprovada, menciona que os ocupantes só entendem a linguagem da força. Eu estabeleço uma ligação clara e nítida entre as eleições marcadas para janeiro e o recrudescimento dos ataques. É uma clara tentativa de inviabilizar o processo eleitoral, já marcado por fraudes e exclusões. Os sunitas ameaçam boicotar o processo se as eleições não forem democráticas (é importante que se esclareçam, posteriormente das eleições de 31 de janeiro de 2005, os sunitas resolveram participar do parlamento, mas não do governo, mas são minoria entre os parlamentares).
O processo não tem um desfecho seguro, até porque nada no Iraque está seguro. O governo não conseguirá controlar o país sem a ajuda do exército americano, cuja saída está prevista, no limite, para final de 2011, bem depois do prazo prometido em campanha pelo “prêmio” Novel da Paz, Barak Obama. As coisas podem tomar outros rumos, porque, como já dissemos, os americanos estão perdendo a guerra tanto no Iraque como no Afeganistão a cada dia que passa. Seria melhor colocar a “viola no saco” e retornarem para suas casas enquanto é tempo e enquanto a derrota não seja humilhante e acachapante.
Protesto contra a Rádio Record News
Em comentários que faz com frequência, o jornalista Salomão Schwartzsman da Rede de TV e Rádio Band News, judeu e sionista, teceu comentários sobre concessões injustas de prêmios Nobel a quem não mereceu. Começa falando de Obama, mas concentra-se em Yasser Arafat e nada menciona do sionista e terrorista Menachem Begin, laureado junto com Anuar El Sadat, do Egípcio em 1979 pelos acordos de Paz de Camp David.
O combativo jornalista José Arbex Jr., meu amigo da época de movimento estudantil e de tantas lutas de 1975 em diante, enviou e-mail protestando contra tais comentários. Faço minhas as suas palavras e as republico abaixo. Os que quiserem se dirigir à redação desse órgão de notícias podem fazê-lo pelo e-mail:
Fale Conosco da rádio Band News: http://bandnewsfm.band.com.br/fale.asp
Contato geral da rádio: ouvinte@bandnewsfm.com.br
Contato do Salomão Schwartzsman: salomao@bandnewsfm.com.br
Telefone do grupo Band news: 3131-1313 (é preciso pedir transferência para a rádio)
“Prezados Senhores Produtores da Band News: Recentemente, o comentarista Salomão Schwartzsman cometeu uma grave injustiça, para dizer o mínimo, ao comentar a concessão do prêmio Nobel da paz ao presidente dos estados unidos Barack Obama. Segundo Schwartzsman, o prêmio foi concedido a Obama não tanto por aquilo que ele fez, mas sim por aquilo que propõe. Até aí, tudo bem, é uma avaliação aceitável. Em seguida, Schwartzsman nota que, historicamente, o Nobel da paz já foi concedido a pessoas que não eram dele merecedores. Também nisso estamos de acordo. Mas o que causa espanto é o fato de que ao dar exemplo de um caso de premiação não merecida, Schwartzsman citou unicamente o ex-líder palestino Yasser Arafat. Pior: expressou a sua desaprovação com estranhas caretas, que mais se assemelharam a estertores de alguém em estado de profunda agonia, sem sequer explicar a causa da desaprovação, como se fosse óbvio para todos que Arafat realmente não deveria ter sido agraciado com o prêmio. A pergunta é: o que pensa Schwartzsman do prêmio concedido ao assassino e terrorista de estado Henry Kissinger, responsável pelo morticínio de milhões do Vietnã, Laos e Camboja, além de ter sido o principal articulador do golpe de estado no Chile, em 1973, para mencionar apenas uma parte de sua brilhante carreira homicida? Ou o que pensa Schwartzsman do prêmio concedido a Menachem Begin, conhecido por suas atividades na organização terrorista Irgun, nos anos 1940? Preocupa-me o fato de que a Band News dê cobertura e empreste o seu prestígio a esse tipo de comentário, absolutamente parcial e desequilibrado. Schwartzsman utilizou a vossa emissora para expressar um ponto de vista em sintonia com o do atual governo de Israel, cujas posições extremadas e racistas já mereceram condenações por parte de Barack Obama e de setores expressivos da própria sociedade israelense. Só posso esperar que a Band News repare o erro cometido por um de seus comentaristas e que não caia no lugar comum da ignorância e do preconceito contra o heróico povo palestino. Grato pela atenção, José Arbex, Jornalista, Professor Universitário e Diretor de Relações Internacionais do Instituto da Cultura Árabe”.
* Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, escritor, arabista e professor. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e da International Sociological Association.