Saturday, October 29, 2005

Muito além de Abu Ghraib

“Um drama está acontecendo em total silêncio no Iraque, onde as tropas de ocupação da coalizão estão usando a fome e a privação de água como armas contra a população civil.” Denúncia feita em 14 de outubro por Jan Ziegler, antigo professor de sociologia, nomeado pela ONU para investigar os direitos humanos no Iraque.

Conforme Ziegler, no ano passado, durante os ataques a Faluja, Tal Afar e Samarra, o exército americano cortou ou restringiu o fornecimento de água à população para forçá-la a fugir dessas cidades para facilitar o ataque aos insurgentes. Na Idade Média, era uma tática comum. Só que o mundo evoluiu e hoje é condenada formalmente pelo direito internacional. Mas não pelos generais americanos, que preferiram seguir os exemplos de Atila e Gengis Cã do que os preceitos da Convenção de Genebra.

Um porta-voz militar contestou o homem da ONU, é claro. Ficou a palavra de Ziegler contra a deles. Não é difícil julgar quem tem mais crédito. Alguns dias depois, vieram à luz novas violações dos direitos humanos pelos mesmos protagonistas.

Em Ramadi, o comando americano anunciou que aviões e helicópteros bombardearam um grupo de ditos “terroristas”, matando 70 deles. Na verdade, pelo menos 25 deles eram civis da região tentando pegar destroços de um blindado destruído no dia anterior. Nessa ação bélica, mais uma vez as forças de ocupação aplicaram aquele velho princípio do “wild west”: atirar primeiro, perguntar depois. A repetição de casos assim parece indicar a existência de uma orientação superior para que, em caso de dúvida, os militares devem atacar sem se preocupar em esclarecer as coisas antes.