Falso nacionalismo emperra negociações com a Bolívia
A nacionalização do gás na Bolívia trouxe de volta as especulações quanto a uma futura falta de energia e as discussões sobre a política energética. Nesse número, o físico e ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa comenta, dentre outros, a atual crise com a Bolívia e a importância do gás natural na matriz energética brasileira.
Para Pinguelli, é preciso separar o caso da Petrobrás da questão do gás. Quanto à estatal brasileira, uma vez tendo decidido por comprar refinarias e postos de gasolina na Bolívia, que eram ativos já existentes naquele país, deverá agora arcar com perdas inevitáveis: temos que perder os anéis e manter os dedos, diz Pinguelli, ressalvando que se trata de perda irrisória uma vez que as operações na Bolívia representam cerca de 1% do valor da empresa. No que diz respeito ao gás, o importante, não somente para o Brasil, como também para a Bolívia, seria negociar, reconhecendo inclusive que o preço do gás natural tende a subir devido a preço do petróleo. Nessa tarefa, Pinguelli alerta para os crescentes entraves impostos pela mídia e seus sócios conservadores: a imprensa brasileira tem atiçado muito os ânimos, com um nacionalismo falso nunca foram nacionalistas em relação aos Estados Unidos, e engolimos tudo quanto foi sapo. Agora, querem ser nacionalistas, defensores da Petrobrás em relação à Bolívia. Vejo essa atitude, de neonacionalismo neoliberal, com muita precaução.
A despeito da existência de uma crise escondida, relacionada à geração de energia pelas termoelétricas, o ex-presidente da Eletrobrás não se diz nada alarmado com perspectivas de desabastecimento e de aumento de preços: a Bolívia não deverá suspender suas exportações e há extensa margem de manobra para se mexer nos preços aos consumidores a partir das altíssimas margens de lucro das distribuidoras. Pinguelli salienta, no entanto, a posição ainda primordial da hidroeletricidade, bem mais importante que o gás natural em nossa matriz energética.