Saturday, October 08, 2005

Diga Não às armas e Sim à vida

Há organismos multilaterais que, de fato, funcionam como unilaterais. Aparentam muitos lados e possuem uma só face. É o caso do FMI. Nunca fez o gesto generoso de sugerir a um país devedor reduzir o seu superávit primário. Para quem não domina o economês, superávit primário é a porcentagem do PIB que o governo economiza para destinar aos credores. Dinheiro que deixa de ser aplicado no combate à fome, na saúde e na educação, e é canalizado para pagar a dívida e(x)terna.

Dom João VI, ao retornar a Portugal, limpou os cofres. O governo negociou com a Inglaterra empréstimo de 3 milhões de libras. Foi o primeiro mau passo, pois o dinheiro era para pagar dívidas e compensar desequilíbrios do orçamento, e não para incrementar a produção e gerar riquezas. Entre 1824-25, o Brasil tomou lá fora o equivalente a 12 mil contos de réis. Levou quarenta anos para resgatar 5 mil contos, e gastou com juros 60 mil contos, cinco vezes o que recebera. Martim Francisco, primeiro ministro da Fazenda, considerava perniciosos os empréstimos externos.

Quando FHC terminou seu segundo mandato no governo, o superávit era de 3,75%. Entrou Lula e subiu para 4,25%. Queria acalmar o mercado, que o fitava com olhos apreensivos. Os 4,25% constam no papel. Na prática, o governo enxuga mais dinheiro do mercado do que supõe a nossa vã impressão. Em 2003, o governo teve em mãos, para novos investimentos, apenas R$ 8 bilhões. E via superávit canalizou R$ 65 bilhões para amortizar os juros da dívida. A previsão para 2006 é o governo dispor de apenas R$ 12 bilhões, e entregar aos credores R$ 179 bilhões. Por muito menos Tiradentes reagiu.